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Dobram o salário mínimo: Roboteiros facturam 180.000 Kz por mês a transportar mercadorias

Grupo de jovens que carregam produtos comprados conseguem arrecadar por mês duas vezes mais do que o salário mínimo nacional. Actividade informal garante o sustento de muitas famílias, mas favorece os atropelos à Lei do Trabalho, sobretudo por envolver menores que deviam estar a estudar.

Registro autoral da fotografia

Há 3 meses
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Os roboteiros são, por norma, jovens desde os 14 anos que se dedicam a transportar mercadorias em carrinhos de mão, feitos de madeira ou de ferro, de clientes dos mercados e, com isso, conseguem “facturar” até 180.000 kz por mês, valores que muitas vezes servem para investir noutras actividades mais rentáveis, depois de retirado o montante necessário para pagar a renda de casa e a alimentação. Enquanto uns economizam para comprar motorizadas, outros poupam para adquirir bois ou gado e abrir outro negócio.

Mas esta é uma actividade informal que, aos poucos, está a desaparecer, por “culpa” da crise, mas também por causa da concorrência dos “kupapatas”, motos de três rodas que transportam diversos produtos e também pessoas.

Paulo Camate é um dos roboteiros que trabalha no mercado 1.º de Agosto, próximo da praça do Catinton, situado no distrito urbano da Maianga, município de Luanda. Todos os dias, a partir das 05h00, pega no seu carro de mão, feito de madeira, e inicia a sua actividade laboral, que termina por volta das 15h00. Tudo porque a esta hora já não há clientes a circular no mercado e o lugar onde guarda o meio de transporte com que trabalha fecha exatamente às 15h00.

Camate trabalha há 21 anos como roboteiro. A sua trajectória começou no mercado do Roque Santeiro, em 2003. “Apesar de ser um trabalho informal, consigo sustentar a minha família com o dinheiro que arrecado diariamente”, diz o homem, de 40 anos, que pede ao Governo Provincial de Luanda (GPL) que ajude a integrar os roboteiros no Instituto Nacional de Segurança Social (INSS). O rendimento diário varia entre os 5.000 e os 6.000 kz. Não é muito, mas o suficiente para não desmobilizar, numa altura em que as ofertas de trabalho escasseiam no mercado formal. Os roboteiros são capazes de levar tudo, basta ter força física e a saúde “em dia”. Para estes jovens, nem todo o trabalho é lucrativo, ou seja, nem todos os produtos que transportam dão para facturar. No caso do transporte de caixinhas de bolachas, ou “banquinhos”, etc., cobram no máximo 700 kz. Mas, ainda assim, levam tudo. Ninguém recusa trabalho.

O valor cobrado depende da distância onde vão depositar as mercadorias dos clientes e o peso que transportam. A título de exemplo, se um cliente precisar que um roboteiro leve a sua mercadoria (5 caixas de coxa) do largo das escolas até ao Jumbo, poderá pagar entre 4.000 a 5.000 kz.

Entre os roboteiros há diferenças entre os que andam com os carrinhos de madeira e aqueles que transportam as mercadorias em carros de ferro. A disparidade reflecte-se no rendimento diário que cada um vai arrecadar. Os que transportam em carros de mão de madeira conseguem obter por dia entre 5.000 a 6.000 kz, enquanto os que trabalha com carros de ferro só levam entre 2.500 a 4.000 kz.

Os mais novos nesta “profissão” acumulam dinheiro para comprarem motorizadas novas. Com o novo meio obtido, voltam a poupar, desta vez, para adquirirem bois e gado.

Com a crise que afecta o país desde 2017, esta actividade está a desaparecer dos mercados aos poucos e a dar lugar aos kupapatas. Para estes jovens, as coisas tornaram-se cada vez mais difíceis.

Há oito anos, os roboteiros conseguiam arrecadar diariamente a quantia de 12.000, porque havia mais poder de compra e quase que não se via os kupapatas a circular nos mercados. Hoje se fizerem metade podem dar-se por satisfeitos.

Expansão

PONTUAL, fonte credível de informação.