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Analistas alertam que congelamento da ajuda dos EUA pode empurrar África Austral para a China

Analistas alertam que o recente congelamento da ajuda humanitária e ao desenvolvimento por parte dos Estados Unidos pode fomentar uma aproximação dos países da África Austral, região que inclui Angola e Moçambique, à China.

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Há 3 semanas
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“Apesar de a deriva proteccionista nos Estados Unidos da América (EUA) trazer um limitado impacto económico aos países da África Austral, nomeadamente à África do Sul, os países na região não vão acolher favoravelmente esta pressão e podem decidir que alinharem-se de forma mais próxima com a China serve melhor os seus interesses”, escreveu o analista da Capital Economics David Omojomolo.

Num comentário ao congelamento da ajuda internacional da USAID, a agência dos EUA para o desenvolvimento e ajuda humanitária, que vale 40 por cento da assistência internacional a nível mundial, o analista que segue várias economias africanas, entre elas Angola e Moçambique, afirma que “os cortes de ajuda e as tarifas sobre os metais não deverão afectar as economias de muitos mercados emergentes”, mas terão outras consequências.

“O impacto destas medidas proteccionistas no PIB dos países da região deve ser pequeno, mas as medidas aumentam o risco de empurrar os países, como a África do Sul, para um bloco mais alinhado com a China, cujos termos para apoio financeiro podem parecer mais previsíveis e não tão sujeitos a variações”, conclui o analista.

O comentário de David Omojomolo, enviado aos investidores e a que a Lusa teve acesso, está na linha de outros analistas, como o presidente da Rede Global para a Prosperidade de África e dirigente do instituto norte-americano Brookings, o professor universitário Landry Signé.

Este analista considera que há o “risco de os EUA perderem a competição geopolítica por África para países como a China, a Rússia e os estados do Golfo, que continuam a aprofundar as ligações ao continente através de parcerias económicas, militares e de acesso a minerais críticos”.

Estas análises surgem na mesma altura em que a Corporação Financeira Africana (AFC), a principal promotora do Corredor do Lobito, anunciou que assinou um memorando de entendimento com o Banco de Exportações e Importações da China (CEXIM).

O objectivo do memorando é “aprofundar a colaboração no financiamento de infra-estruturas estratégicas e projectos comerciais no continente”.

Até agora, a AFC já garantiu um total de 700 milhões de dólares de financiamento do CEXIM, diz esta entidade vocacionada para o financiamento de grandes infra-estruturas, salientando que “esta parceria renovada vai focar-se no financiamento comercial e em projectos de investimento em sectores cruciais como a energia limpa, os transportes, as telecomunicações e a mitigação das alterações climáticas”.

A AFC tem estado a apostar no mercado financeiro chinês, tendo recebido um rating de AAA, o mais elevado, da agência de notação financeira Chengxin International, e participado numa emissão de dívida de 1,16 mil milhões de dólares liderada pelo Banco da China e pela filial londrina do Banco da Indústria e Comércio chinês.

“Através desta parceria, as duas instituições vão trabalhar em conjunto para mobilizar financiamento para projectos de grande impacto, melhorar as soluções de financiamento do comércio e apoiar o crescimento do sector privado em todo o continente”, lê-se ainda no comunicado enviado à Lusa.

C/VA