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Filha de Mário Pinto de Andrade denuncia esquecimento do pai: «Há uma história por contar»

Mário Pinto de Andrade, um dos cérebros por detrás da luta anticolonial em Angola e fundador do MPLA, continua a ser uma figura quase apagada da narrativa oficial do país, denuncia a filha, Henda Ducados.

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A socióloga e economista luso-angolana lamenta que o pensamento e o papel do pai na luta pela independência estejam ausentes dos currículos escolares e da memória colectiva nacional. “Ele é mencionado, sim, como primeiro presidente do MPLA, mas não é estudado a sério. O seu pensamento está ausente do debate público e da formação dos jovens”, afirmou em entrevista à Lusa.

A crítica surgiu à margem do evento “A Revolução é um Acto de Poesia”, no Museu do Aljube, em Lisboa, onde Henda defendeu que há “algo a corrigir” na forma como Angola trata os seus heróis intelectuais e ideológicos. Ao lado da irmã, criou a “Associação dos Amigos da Sarah e do Mário”, para recuperar e divulgar o legado do pai. A organização já publicou obras inéditas e promete lançar, ainda este ano, um livro sobre a sua passagem pela região leste de Angola.

Segundo Henda, a falta de reconhecimento reflecte uma ausência mais profunda: a da memória histórica. “Há um vazio na nossa juventude, que não conhece a História como ela aconteceu”, alertou, acrescentando que o país precisa não só de rever a forma como ensina o passado, mas também de tornar-se finalmente “um bom lugar para viver”, à altura do sonho de Mário Pinto de Andrade.

Também Elias Joaquim, representante do projecto cultural BISO, criticou o apagamento histórico da figura do intelectual pan-africanista. “É uma figura esquecida. Nós, jovens, decidimos ressuscitá-la. Precisamos de referências, e ele é uma delas.”

Para ambos, a luta pela liberdade não se esgota na independência: passa também pela preservação da memória e pela honestidade histórica.