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MED reestrutura currículo do II ciclo de aprendizagem do ensino primário

A elaboração de materiais curriculares em algumas línguas de Angola de origem africana representa o novo processo de reestruturação do currículo do II ciclo de aprendizagem do ensino primário no país, disse, ontem, em Luanda, a ministra da Educação (MED).

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Há 9 meses
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Luísa Grilo, que falava na abertura da formação de autores de estórias em sete línguas angolanas de origem africana, que decorre desde ontem com o término no próximo dia 5, para 35 professores, das 18 províncias, acrescentou que o programa de reestruturação vai abranger a 5ª e 6ª classes, no âmbito da subcomponente 2.3 do Projecto de Empoderamento das Raparigas e Aprendizagem para Todos (PAT II).

A ministra explicou que a formação de formadores visa à produção de conteúdos escritos e  ilustração de livros nas línguas Tchokwe, Kikongo Kimbundu, Nganguela, Olunyaneka, Oshiwambo e em  Umbundu. “Os livros serão classificados em três níveis, nomeadamente o nível 1, 2 e 3, com palavras e frases simples e ilustrações”.

Segundo a ministra, a formação de autores de estórias em línguas angolanas de origem africana, sob a responsabilidade do Instituto Nacional de Avaliação e de Desenvolvimento da Educação (INADE), afecto ao Ministério da Educação, será ministrada por quatro especialistas sul-africanos.

“O principal objectivo do projecto é desenvolver competências para a criação de conteúdos de leitura em línguas angolanas de origem africana e a formação de autores para garantir uma educação inclusiva, fundada na aprendizagem adaptada às particularidades sociais e psicolinguísticas das crianças”, sublinhou.

Luísa Grilo referiu que o facto de muitos alunos não terem a língua portuguesa como língua materna dificulta a aquisição e o desenvolvimento das habilidades de leitura, escrita e a compreensão de textos, com repercussão negativa nos resultados escolares.

A governante lembrou que a subcomponente 2.3 do PAT II visa, igualmente, garantir a continuidade da aprendizagem e a expansão de materiais curriculares produzidos para as línguas de Angola de origem africana, que tem como objectivo diminuir a exclusão de muitas crianças no sistema de ensino. 

A ministra da Educação recomendou a utilização das línguas de Angola nas salas de aula, não, apenas, como alternativa ao português, enquanto língua oficial do país.

Luísa Grilo defendeu a necessidade da implementação de políticas que promovem a efectiva massificação da aprendizagem das línguas angolanas, tendo encorajado os formandos e formadores a dedicarem-se aos conteúdos as duas semanas, com estórias que são utilizadas no contexto escolar, com ilustrações que ajudam na narrativa interativa.

 
País multilingue e multicultural

A consultora de Literatura e Tecnologia da Educação da Sociedade Internacional de Linguística (SIL), Ruth Munguti, disse que Angola é um país multilingue e multicultural e a tensão existente entre as línguas nacionais e a língua portuguesa deve-se à inexistência de um estatuto para as línguas nacionais. “A língua portuguesa beneficia de um estatuto de língua nacional e oficial e é difundida a nível nacional”.

A língua materna, acrescentou, é um elemento de suma relevância no sistema de ensino, mas a doutrina do ensino em português e os objectivos definidos pela escola remete-a para uma situação de opressão linguístico-cultural e curricular, originando o comprometimento da ascensão social, política e económica.

O representante da 6ª Comissão da Assembleia Nacional, que controla as áreas da Saúde, Educação e o Ministério do Ensino Superior, Ciências, Tecnologia e Inovação, deputado David Álvaro, reconheceu o trabalho do Executivo que tem implementado políticas comprometidas com a educação de todos, em particular das raparigas e dos rapazes do ensino primário e secundário.

“A formação de autores de estórias em línguas angolanas de origem africana vai desempenhar um papel preponderante na transmissão de saberes entre gerações, de modo a promover as línguas maternas, para o alcance de uma educação equitativa, inclusiva e de qualidade”, lembrou.

David Álvaro explicou que as línguas devem ser valorizadas, daí a importância na formação de formadores que vão produzir conteúdos linguísticos para o país.

C/JA