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Governo gasta milhões e escolhe Odebrecht, envolvida em escândalos, para ligar Luena e saurimo por ferrovia

O Governo de Angola escolheu a polémica construtora brasileira Odebrecht para liderar a empreitada de construção da ligação ferroviária entre Luena e Saurimo, num contrato avaliado em cerca de 1,1 milhões de dólares.

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Há 2 semanas
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A obra, que deverá ligar as províncias do Moxico e da Lunda Sul através de 260 quilómetros de linha férrea do Caminho-de-Ferro de Benguela (CFB), promete ser uma aposta arriscada, tendo em conta o histórico controverso da empresa, que já esteve envolvida em diversos escândalos de corrupção em Angola e noutros países.

A informação foi avançada por Daniel Neto, governador da província da Lunda Sul, que assegurou que o projecto já recebeu luz verde através de decreto presidencial. Contudo, Neto não apontou qualquer data para o início das obras, levantando dúvidas sobre a real viabilidade e o cumprimento dos prazos de uma iniciativa que depende de estudos ambientais, desminagem e um levantamento complexo dos terrenos para a construção de estações.

Odebrecht: Uma Escolha Polémica

A decisão de entregar o projecto à Odebrecht gerou inquietação em vários sectores. Apesar do seu extenso portfólio em Angola, a construtora carrega o peso de acusações de práticas corruptas, levantando suspeitas sobre a transparência do processo de adjudicação. Será que o Governo estará disposto a fechar os olhos a este passado controverso em troca de uma obra que, até ao momento, parece ser mais uma promessa política do que uma realidade concreta?

Além disso, o custo relativamente baixo de 1,1 milhões de dólares para um projecto desta envergadura levanta questões sobre a qualidade e sustentabilidade da obra. Analistas do sector apontam que a cifra subestimada pode significar cortes em áreas cruciais, comprometendo a segurança e durabilidade da infraestrutura.

Promessas e Realidade

Embora o governador Daniel Neto tenha destacado o potencial impacto socioeconómico do projecto para a região, a história recente de grandes empreitadas em Angola está repleta de atrasos, derrapagens financeiras e obras inacabadas. A promessa de conectar as províncias do Moxico e da Lunda Sul surge num cenário em que, até hoje, muitas estradas e ferrovias continuam abandonadas ou mal executadas.

Neto também mencionou que a Estrada Nacional 230, no troço entre Saurimo e Malanje, será concluída até ao primeiro trimestre de 2025. Contudo, a circular de Saurimo, que aguarda apenas pela sinalização, permanece num limbo burocrático.

Impacto da Nova Divisão Político-Administrativa

Com a recente divisão político-administrativa do país, novos municípios surgiram na região, aumentando a pressão para a construção de infra-estruturas básicas. Embora as sedes municipais de Dala e Cacolo estejam ligadas por vias asfaltadas, outras localidades, como Muconda, continuam a enfrentar graves dificuldades de mobilidade.

Investimento ou Armadilha?

O Governo angolano está claramente a apostar alto no progresso das infra-estruturas, mas as escolhas de parceiros e os custos aparentemente subvalorizados levantam questões sérias. Poderá esta ferrovia ser mais um “elefante branco” na longa lista de projectos falhados no país? Ou será que a Odebrecht, apesar do seu passado obscuro, conseguirá redimir-se com uma obra histórica?

A população, por agora, assiste de perto, aguardando para ver se as promessas se transformarão em progresso ou se, mais uma vez, ficarão apenas no papel.

PONTUAL, fonte credível de informação.