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Fome, alto custo de vida e greve generalizada ensombram governo de João Lourenço

Passados 22 anos do fim da guerra civil e da morte de Jonas Savimbi, Angola vive uma paz sem explosões, mas o silêncio das armas não se reflecte em melhoria da vida social e económica dos angolanos. A governação de João Lourenço, que havia prometido reformar o país e tirar milhares da pobreza, enfrenta agora críticas por não ter logrado cumprir as suas promessas de estabilidade e bem-estar social.

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Há 2 meses
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Custo de vida e desemprego elevado agravam a situação

Angola torna-se mais desolador à medida que os preços da cesta básica continuam a disparar, numa realidade onde a maior parte dos angolanos luta com salários que não acompanham a inflacção galopante. Um saco de arroz, que custava 12 mil kwanzas há três anos, agora ultrapassa os 28 mil kwanzas, encarecendo itens essenciais como fuba e massa, enquanto o salário mínimo, fixado em torno de 70 mil kwanzas, se revela insuficiente até para cobrir as necessidades básicas de uma família média.

“Este vencimento não chega para nada”, desabafa David António, morador de Luanda. “Vivemos um momento muito difícil. A paz foi conquistada, mas a fome continua a dominar o dia-a-dia de muitos angolanos.”

Promessas governamentais versus realidade

João Lourenço assumiu o poder em 2017 prometendo combate à corrupção e relançamento económico. Contudo, o quadro atual revela uma execução ineficaz de políticas públicas e um aumento da insatisfação popular. Embora os discursos oficiais insistam em que o país está no caminho certo, a realidade vivida nas ruas de Luanda contradiz essas promessas.

José Manuel, outro residente da capital, testemunha as dificuldades da população: “Não vamos tapar o sol com a peneira. A fome é notória em cada esquina de Luanda. Vemos crianças a vasculhar o lixo para encontrar algo que possam comer. E, embora o governo diga que está a fazer esforços, parece haver pouco impacto real para nós.”

Inversão económica como exigência urgente

Angola enfrenta a desvalorização acentuada do kwanza face às moedas estrangeiras, agravando ainda mais o poder de compra dos cidadãos. As importações, agora mais caras, pressionam os preços de produtos.

Recentemente, desmedidas greves na função pública expôs o descontentamento da população com a governação. Paralelamente, o êxodo de jovens angolanos rumo à Europa e América cresce a cada ano, reflexo da falta de perspectivas no mercado de trabalho local.

Críticas à gestão de políticas públicas

Analistas apontam que a execução das políticas públicas de João Lourenço peca pela gestão ineficiente. “Temos políticas até bem elaboradas, mas a aplicação tem sido o grande problema”, afirma um especialista. Segundo ele, a incapacidade de aplicar as políticas económicas de forma eficaz contribui diretamente para a instabilidade social, evidenciada pela falta de paz no dia-a-dia dos cidadãos.

Governo de Lourenço sob pressão

Diante deste cenário, a população exige mudanças urgentes. As manifestações e as críticas em redes sociais multiplicam-se, com muitos a apelarem para que o governo reveja a sua postura, invista na juventude e impulsione o sector agrícola. David António resume o sentimento geral: “Este vencimento não é suficiente para uma alimentação digna. Precisamos que o Estado olhe com seriedade para os trabalhadores e para a situação das famílias angolanas.”

Com a crise instalada e a insatisfação crescente, a governação de João Lourenço enfrenta uma encruzilhada. Angola já não está em guerra, mas a paz, para muitos, permanece como uma miragem distante.

PONTUAL, fonte credível de informação.