0º C

17 : 07

Jogo de cintura de Angola entre China e EUA será mais difícil com Trump, considera analista

O académico Ricardo Soares de Oliveira disse à agência Lusa que “o jogo de cintura” que Angola está a fazer entre a China e os Estados Unidos “será muito mais difícil” com a eleição de Donald Trump.

Registro autoral da fotografia

Há 3 semanas
2 minutos de leitura

Para o professor de Política Internacional Africana, da Universidade de Oxford, no Reino Unido, o Presidente eleito dos Estados Unidos “não tem a tolerância” de Joe Biden com países desalinhados com os interesses norte-americanos.

“No contexto das eleições americanas, houve alguma hesitação em Angola sobre o valor a longo prazo da visita de Biden. Se o resultado [das eleições] favorecesse Trump, o que acabou por acontecer, havia receio de que o novo Presidente sabotasse as iniciativas americanas em Angola, precisamente porque vinham da administração Biden”, considera Ricardo Soares de Oliveira.

Todavia, o investigador identifica um problema: mesmo que Trump acredite na lógica da parceria, “ele não tem a tolerância da administração Biden para com Estados não-alinhados”.

“A administração Biden quis ganhar o apoio dos Estados africanos sobre questões como a Ucrânia, mas fê-lo quase sempre de forma discreta. Não queria ser vista a fazer o tipo de pressão coerciva que associamos aos anos da guerra fria. Mas isso é precisamente aquilo que a administração Trump fará sem hesitação, esperando lealdade de Estados mais fracos. O jogo de cintura que os angolanos estão a fazer entre a China e os EUA será muito mais difícil”, acrescenta.

As dificuldades de Angola no relacionamento com os Estados Unidos, que a partir de 20 de Janeiro voltarão a ter um republicano na Presidência, assentam no princípio de quase total irrelevância de África para uma administração liderada por Donald Trump.

“Durante a primeira administração de Trump (2017-2021), África foi quase sempre ignorada. O Presidente fez alguns comentários pouco lisonjeiros sobre o continente, mas o ponto comum [do primeiro mandato] foi a falta de interesse. África continua a não ser uma área prioritária para os interesses a volta de Trump, pelo que poderemos esperar muito menos interesse. O interesse que existir será muito transaccional e quase sempre relacionado com áreas como as indústrias extractivas, muito influentes no círculo de Trump”, antecipa.

Ricardo Soares de Oliveira adianta que onde existir interesse geopolítico, “a postura de Trump para com alinhamentos antiamericanos (ou meramente equidistante) será provavelmente muito mais impaciente do que a de Biden”.

“Mas muito dependerá da relação entre os EUA e a China. Se esta se deteriorar ainda mais, é possível que África se torne um palco de competição geopolítica, mas por ora isto ainda não aconteceu de forma duradoura”, defende.

Joe Biden visita Angola de 2 a 4 deste mês, concretizando a deslocação que chegou a estar inicialmente agendada para Outubro mas que o Presidente cessante norte-americano adiou para supervisionar a passagem do furacão Milton pelos Estados Unidos.

No passado dia 26 de Novembro, num ‘briefing’ à imprensa sobre as prioridades da visita de Biden, a assistente especial do Presidente e directora de Assuntos Africanos no Conselho de Segurança Nacional norte-americano, Frances Brown, salientou que o líder norte-americano vai reunir-se bilateralmente com o Presidente, João Lourenço, para aprofundarem as conversas sobre infra-estrutura, clima, paz e segurança, democracia e objectivos económicos compartilhados.

Em 2023, o comércio entre Estados Unidos e Angola totalizou aproximadamente 1,77 mil milhões de dólares, o que tornou Angola no quarto maior parceiro comercial de Washington na África Subsaariana.

“Vemos Angola como um parceiro estratégico e um líder regional. O nosso relacionamento com Angola transformou-se completamente nos últimos 30 anos, e essa transformação ganhou ritmo nos últimos três anos”, assinalou Frances Brown.

Nesse sentido, a directora de Assuntos Africanos resumiu a viagem de Biden a Angola a três objectivos: “elevar a liderança dos EUA em comércio, investimento e infra-estrutura em África”; destacar a “liderança regional e a parceria global de Angola num espectro completo de questões urgentes, incluindo comércio, segurança e saúde”; e, por último, destacar a “notável evolução do relacionamento EUA-Angola”.

C/VA

PONTUAL, fonte credível de informação.