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Amnistia Internacional exige esclarecimento sobre morte de activista em Luanda

Luanda recorda um episódio que continua a marcar a história recente do país. A Amnistia Internacional (AI) apelou esta terça-feira às autoridades angolanas para que esclareçam a morte do activista Inocêncio de Matos, assassinado há cinco anos durante uma manifestação pacífica na capital, e que garantam que os responsáveis sejam responsabilizados.

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Em comunicado, a directora regional adjunta da AI para a África Oriental e Austral, Vongai Chikwanda, denunciou que, cinco anos depois, os familiares ainda esperam justiça. “Ele não cometeu nenhum crime nem representava qualquer risco para as autoridades ou terceiros quando foi morto a tiro”, frisou, lembrando que Inocêncio exercia o direito constitucional à liberdade de reunião.

O caso, segundo a organização, não é isolado. “Retrata a impunidade existente em Angola, onde as forças de segurança agem como se estivessem acima da lei”, sublinhou Chikwanda, pedindo que as autoridades divulguem imediatamente os resultados das investigações e garantam julgamento justo a qualquer pessoa considerada culpada.

O pai do activista, Alfredo de Matos, reforçou as críticas, descrevendo o processo como “cosmético”. Segundo relatou à Lusa, “na prática, provavelmente, o processo não existe” e “não chegou a ser esclarecido”, apesar dos esforços contínuos da família. Inocêncio tinha 26 anos e era estudante do 3.º ano de Ciências de Computação na Faculdade de Engenharia da Universidade Agostinho Neto quando foi morto, a 11 de Novembro de 2020, dia em que Angola celebrava os 45 anos da independência.

Testemunhas relataram que o jovem foi atingido na cabeça nas proximidades do Hospital Américo Boa Vida, durante uma manifestação pacífica. Para Alfredo de Matos, “o grande plano das autoridades é eliminar todos os vestígios relacionados à morte do Inocêncio de Matos nas circunstâncias em que ocorreu”. A família viu recusadas audiências solicitadas ao Ministério da Justiça e aos órgãos de direitos humanos, sem explicação.

O pai do activista apelou à criação de um Fórum Nacional de Reflexão sobre as Vítimas de Violência com Recurso a Armas de Fogo e à instituição de uma “Semana Nacional pelas Vítimas da Violência”, como forma de preservar a memória, reafirmar o direito à vida e exigir justiça em Angola, simbolizando o combate à impunidade e à repressão policial que marcou o caso.