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Autoridades angolanas acusadas de tentar apagar vestígios do assassinato de activista

Cinco anos depois da morte do activista Inocêncio de Matos, o caso continua sem resposta. A família acusou esta terça-feira as autoridades angolanas de tentarem eliminar vestígios ligados ao crime e criticou a falta de esclarecimento judicial, classificando o processo como “cosmético”.

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O pai da vítima, Alfredo de Matos, denunciou à Lusa que, apesar de todos os esforços da família, “na prática, provavelmente, o processo não existe” e “não chegou a ser esclarecido”. Inocêncio tinha 26 anos e foi morto a 11 de Novembro de 2020, dia em que Angola celebrava os 45 anos da independência — alegadamente atingido por disparos policiais durante uma manifestação pacífica em Luanda.

Segundo testemunhas, o jovem estudante do 3.º ano em Ciências de Computação na Universidade Agostinho Neto foi atingido na cabeça nas imediações do hospital Américo Boa Vida. Para Alfredo de Matos, “o grande plano das autoridades é eliminar todos os vestígios que digam respeito à morte do Inocêncio de Matos nas circunstâncias em que morreu”.

O familiar recordou que, em Novembro de 2020, o Presidente João Lourenço assegurou à juventude reunida no Centro de Convenções de Talatona que as autoridades judiciais trabalhavam para esclarecer o caso. Cinco anos depois, lamenta Alfredo, “o processo continua na mesma”. Pedidos de audiência com o ministro da Justiça, Marcy Claúdio Lopes, e com a secretária de Estado para os Direitos Humanos, Antónia Yaba, foram recusados, sem qualquer explicação.

A família denuncia ainda dificuldades de contacto com o advogado do caso e critica o Governo por manter práticas de repressão semelhantes às do período colonial. “Incrivelmente, o espírito e a prática de repressão colonial prevalecem”, lê-se no comunicado divulgado por Alfredo de Matos, que considera o caso do filho um símbolo da impunidade e da repressão policial em Angola.

Para preservar a memória de Inocêncio e reforçar o direito à vida e à justiça, a família defende a criação de um Fórum Nacional de Reflexão sobre as Vítimas de Violência com Recurso a Armas de Fogo e a instituição de uma “Semana Nacional pelas Vítimas da Violência”. “O amor é o broto da justiça; a justiça é o santuário da paz; e a paz é o berço do desenvolvimento socioeconómico sustentável que todos almejamos”, concluiu Alfredo de Matos.