China aposta nos laços económicos com África
A cidade de Beijing, com uma arquitectura económica futurista, acolhe, em Novembro deste ano, a oitava edição do Fórum de Cooperação China-África (FOCAC), uma plataforma de cooperação internacional concebida para o fortalecimento dos laços de amizade, aprofundamento da solidariedade e partilha de experiências de governação.
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O FOCAC, que tem permitido a aproximação dos processos de construção de ambas as sociedades, com as relações bi e multilaterais a somarem mais de 30 anos, sendo, para autoridades chinesas, uma oportunidade “única e sem paralelo” na história do intercâmbio internacional. Assim, a primeira edição do fórum, que tem lugar de três em três anos, foi realizada em Pequim (2000), que acolheu, igualmente, as edições de 2006 e 2012. Depois, seguiram-se outras, nomeadamente Adis Abeba (2003), Sharm El-Sheik (2009), Joanesburgo (2015), Beijing (2018 e 2023). A dinâmica de cada fórum resulta num plano de acção de três anos entre a China e os países africanos, executado, de forma bilateral, sob acompanhamento de um comité.
O ministro das Relações Exteriores da China, Wang Yi, anunciou, ontem, a realização do FOCAC, durante a conferência de imprensa à margem da segunda sessão do 14° Congresso Nacional Popular, no auditório do Centro de Media, em Pequim. Acrescentou que o conclave vai abrir um novo espaço para acelerar o desenvolvimento comum entre os participantes.
Questionado sobre as relações China-África, Wang Yi destacou a tradição dos ministros dos Negócios Estrangeiros chineses escolherem o continente berço como o primeiro destino nas suas visitas anuais ao exterior. “China e África são irmãos que se tratam com sinceridade e que partilham um futuro comum”, enfatizou. Wang recordou processo de luta política e autodeterminação da história dos dois povos, como sinal de compromisso e respeito por ambos países.
“Lutamos lado a lado contra o imperialismo e o colonialismo. Apoiámo-nos uns aos outros na busca do desenvolvimento, e sempre defendemos a justiça num cenário internacional em mudança”, destacou o ministro chinês dos Negócios Estrangeiros.
No entender de Wang, os dois lados encontraram mecanismos emergentes na construção da comunidade China-África, cujo futuro é partilhado. Enfatizou o facto de a China ser o maior parceiro comercial de África há 15 anos, e que a cooperação interpessoal atingiu níveis satisfatórios, com campos para crescer ainda mais.
“À medida que os países africanos perceberem que precisam de explorar um caminho de desenvolvimento que se adapte às condições nacionais, a fim de manter o futuro nas suas próprias mãos, a China continuará a apoiar firmemente África, para que seja verdadeiramente independente no pensamento e nas ideias”, disse Wang Yi.
O ministro chinês dos Negócios Estrangeiros disse que o seu país ajudará África na criação de capacidade para um desenvolvimento autodirigido, modernizado e mais rápido. Wang realçou que a China sempre defendeu que a África não deveria ser marginalizada nas grandes questões mundiais. “Esperamos que todas as partes, tal como a China, prestem maior atenção à África e aumentem a contribuição no desenvolvimento do continente, com acções reais”, concluiu.
Pequim denuncia tácticas de contenção
O ministro dos Negócios Estrangeiros da China acusou, ontem, os Estados Unidos de conceberem tácticas para conter a ascensão da China e criticou a administração norte-americana por impor mais sanções a empresas chinesas.
Em conferência de imprensa, à margem da sessão anual da Assembleia Popular Nacional, Wang Yi reconheceu que as relações com os EUA melhoraram desde que os Presidentes chinês, Xi Jinping, e norte-americano, Joe Biden, estiveram reunidos em Novembro, embora Washington não tenha cumprido as promessas feitas.
“Se os EUA dizem sempre uma coisa e fazem outra, onde está a sua credibilidade como grande potência? Se os EUA ficam nervosos e ansiosos quando ouvem a palavra ‘China’, onde está a sua confiança como grande potência?”, questionou. “Se os EUA estão obcecados em conter a China, acabarão por se prejudicar a si próprios”, disse.
Wang, um diplomata veterano de 70 anos que conquistou a confiança do Presidente chinês, Xi Jinping, regressou ao cargo de ministro dos Negócios Estrangeiros no verão passado, depois de o sucessor Qin Gang ter sido abruptamente demitido sem explicação, ao fim de meio ano no cargo.
Analistas consideraram que o Partido Comunista, no poder, podia aproveitar a reunião de uma semana do órgão legislativo para nomear um novo chefe da diplomacia, mas tal hipótese foi excluída depois de uma ordem de trabalhos divulgada na véspera da sessão de abertura não incluir mudanças de pessoal.
Wang acusou os Estados Unidos, sem os nomear, de estarem a provocar problemas em Taiwan e no mar do Sul da China. A China afirma que Taiwan é uma província do país que deve estar sob o controlo de Pequim, e reivindica a quase totalidade do mar do Sul da China, o que a coloca em desacordo com Filipinas, Vietname e outros países vizinhos do Sudeste Asiático.
As Filipinas e os Estados Unidos acusaram a China de tácticas agressivas na tentativa de impedir os navios filipinos de chegarem aos recifes e outros afloramentos que ambas as partes reivindicam.
Na terça-feira, as Filipinas e a China acusaram-se mutuamente após novo embate entre navios das guardas costeiras, numa zona disputada nas águas, onde têm sido registados vários incidentes entre embarcações dos dois países nos últimos meses.
Wang afirmou que os países que insistem em manter laços oficiais com Taiwan estão a interferir nos assuntos internos da China. A maioria dos países, incluindo os Estados Unidos, não tem laços diplomáticos com Taiwan, mas a China opõe-se às visitas de políticos norte-americanos à ilha e às vendas de equipamento militar norte-americano para o exército da ilha.
A China vai continuar a trabalhar para a reunificação pacífica de Taiwan, disse Wang, advertindo que qualquer pessoa que apoie a independência de Taiwan vai pagar um preço.
De acordo com observadores, a maioria dos taiwaneses prefere manter o ‘status quo’ de independência de facto e não formal, para não antagonizar a China por temer que o domínio chinês possa pôr em perigo as liberdades e a democracia, especialmente depois da repressão chinesa em Hong Kong, na sequência dos protestos antigovernamentais de 2019.
“O nosso objectivo é muito claro”, disse Wang. “Taiwan nunca poderá separar-se da sua pátria”, vincou. O ministro criticou ainda as sanções impostas contra empresas do país asiático, depois de, há duas semanas, EUA e UE terem alargado as sanções contra empresas e indivíduos da China e de vários outros países por alegadamente ajudarem o esforço de guerra da Rússia.
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