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Político moçambicano vê semelhanças entre manifestações em Luanda e Maputo

O político moçambicano Venâncio Mondlane considerou que os protestos registados recentemente em Angola reflectem o mesmo sentimento de frustração que levou milhares de moçambicanos às ruas após as eleições gerais de 2024. Em declarações públicas divulgadas na sua página do Facebook, Mondlane apontou a pobreza persistente, a desigualdade no acesso aos recursos e a repressão como factores comuns entre os dois países.

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“Os angolanos estão apenas a reclamar o que é seu por direito”, afirmou, referindo-se à greve nacional dos taxistas convocada pela Associação Nacional dos Taxistas de Angola (ANATA), que decorreu entre os dias 28 e 30 de Julho. A paralisação, motivada pela subida do preço do gasóleo, foi marcada por confrontos violentos, actos de vandalismo e pilhagens em várias províncias, provocando 30 mortos, 277 feridos e 1515 detenções, segundo dados oficiais.

Mondlane, que liderou a contestação ao processo eleitoral em Moçambique e cuja candidatura presidencial não foi reconhecida pelas autoridades, sublinhou que os povos de ambos os países vivem cercados de abundantes recursos petróleo e gás natural mas continuam mergulhados na pobreza. “Não é a riqueza de uma minoria. É a riqueza de milhões que continuam sem acesso à dignidade básica”, declarou.

Acusado pelo Ministério Público moçambicano de incitação à violência durante os protestos pós-eleitorais, Mondlane rejeita as acusações e insiste que a mobilização popular em Moçambique foi uma resposta legítima a um sistema que, afirma, “reprime, persegue e empobrece”. Em Angola, disse, está a acontecer o mesmo: “Não são vândalos. São pessoas empurradas para a miséria e para a indignidade”.

O político acusou ainda os governos de Angola e Moçambique de limitarem a liberdade de expressão e recorrerem a detenções arbitrárias para silenciar a crítica. “As semelhanças são visíveis nos relatórios da Amnistia Internacional e de outras organizações de direitos humanos. Não há liberdade de imprensa. Quem se manifesta é perseguido”, criticou.

A contestação em Angola surgiu em resposta ao fim da subvenção aos combustíveis, que afectou gravemente os rendimentos dos taxistas, mas acabou por escalar em violência em diversas zonas da capital e do interior. Apesar da ANATA ter anunciado a suspensão da greve, parte dos seus membros manteve a paralisação, alegando descoordenação e desinformação.

Venâncio Mondlane encerrou a sua intervenção defendendo o direito à manifestação como expressão legítima de descontentamento num Estado democrático. “Em sociedades normais, protestar é um direito. É a forma de o povo dizer que não aceita mais ser excluído”, concluiu.