PROJECTO FALHADO? Falta de equipamentos sociais transforma Capari em cidade-dormitório de Luanda
O contexto eleitoral, em 2017, apressou a entrega das casas do projecto, o que deixou obras de equipamentos sociais por fazer. “Custa viver aqui por estar muito distante de serviços básicos”, diz um morador. Alí, hoje, há apenas estradas e prédios, faltando um pouco de tudo no local.
Registro autoral da fotografia
Há sete anos o País vivia em euforia com a realização de eleições gerais pela primeira vez em quase quatro décadas em que o candidato não era José Eduardo dos Santos. Foi precisamente em 2017, que a centralidade de Capari, localizada na província do Bengo, no município do Dande, começou a receber os primeiros moradores a poucas semanas da realização dessas eleições. Estavam longe de saber que esta cidade dormitório não iria ter serviços básicos como escolas, hospitais, supermercados e até mesmo um ATM. Por isso, os moradores praticamente só lá vão para dormir.
A centralidade fica a 50 Km do coração de Luanda e a 33 Km do Cacuaco, zonas onde grande parte dos moradores fazem as suas vidas: trabalhar, estudar, comprar e lazer. O que significa que em muitos casos famílias inteiras, pais e filhos, percorrem vários quilómetros para encontrar escolas ou serviços de saúde.
A centralidade foi erguida sem equipamentos, apesar de o projecto original contemplar, além dos 250 edifícios habitacionais, uma escola primária e uma escola secundária, incluindo campos de jogos, assim como uma creche, um centro de actividades lúdicas e recreativas, um supermercado e uma esquadra policial.
Em termos práticos e a julgar pelo projecto, a construção da centralidade está hoje ainda muito longe de estar concluída, apesar de os apartamentos serem habitados há vários anos. “O contexto eleitoral, em 2017, apressou a entrega dos apartamentos. Até porque a inscrição para o projecto habitacional foi feito em Luanda, mesmo sabendo que a centralidade é da província do Bengo, o que levou a que o grosso dos habitantes tenham as suas vidas em Luanda”, disse fonte do Expansão ligada ao Governo Provincial do Bengo.
José, que reside na centralidade há 5 anos, diz ter a vida toda em Luanda, nomeadamente o trabalho e a escola do seu primeiro filho. “Custa viver aqui por estar muito distante de serviços básicos. Temos água e energia, mas a recolha de lixo é deficitária”, lamenta.
“Não há escola de ensino médio para receber os estudantes deste nível. A única escola disponível [que é anterior à centralidade] atende alunos do ensino primário e do Iº ciclo do ensino secundário”, explica dona Bela, de 48 anos, que vive no bloco 5 da centralidade há mais de 3 anos com os seus 4 filhos.
A centralidade, cujo promotor é a Sonip, imobiliária da petrolífera nacional Sonangol, está desprovida de um centro de saúde construído de raiz para atender os habitantes, facto que os moradores contestam, alegando que não foi isto que lhes foi prometido.
Adaptações não resultam
Em 2019, o Governo improvisou uma clínica num dos apartamentos, mas também não cobre as necessidades quer em número, quer em serviços disponíveis. Aliás foram provisorias, mas as definitivas, que o projecto contemplava, nunca chegaram a ser construídas. De acordo com a dona Bela, a solução que os moradores têm para aceder a serviços de saúde passa por recorrer a Luanda e às vezes na sede municipal do Dande, que fica a 22 Km da centralidade.
Na altura, o Governo também adaptou a esquadra policial numa construção provisória para manter a centralidade segura dos invasores, que aos poucos iam tomando de assalto os apartamentos, por falta de segurança.
A fonte do Expansão junto do Governo Provincial do Bengo disse que já houve várias tentativas de trazer serviços como bancos ou supermercados mas até hoje não houve sucesso.
O Expansão apurou que a administração da centralidade já escreveu a 5 bancos comerciais e ao supermercado Arreiou, e apesar de responsáveis dos bancos terem visitado o espaço, acabaram por descartar o “convite” para instalar ali uma agência bancária, até porque a ideia seria instalá- -las em apartamentos. O mesmo aconteceu com o supermercado.
Enquanto os supermercados não chegam nem os bancos, já há adaptações de apartamentos em estabelecimentos comerciais sem autorização prévia, envolvendo alterações estruturais nos edifícios, colocando em risco a durabilidade dos imóveis que começaram a ser edificados em 2014. Os edifícios estão subdivididos em onze blocos separados entre si pelas vias primárias da urbanização. Estão construídos 4.016 do tipo T3 distribuídos por 250 edifícios de dois pisos. O Expansão tentou no local contactar a administração da centralidade, mas não teve sucesso.
C/Expansão
PONTUAL, fonte credível de informação.
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