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Assembleia da Guiné-Bissau reabre portas sem deputados

A Assembleia Nacional Popular da Guiné-Bissau foi reaberta com restrições aos deputados, que estão impedidos de entrar nas instalações, desde que foi dissolvida pelo Presidente da República, há mais de três meses, numa altura em que já se fazem sentir os apelos para a realização das próximas eleições.

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Há 9 meses
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A decisão de reabertura, segundo a Lusa, foi anunciada, na quarta-feira, pelo Governo de iniciativa presidencial e executada pelo comissário nacional da Polícia de Ordem Pública (POP), Salvador Soares, que esteve no Parlamento a transmitir as directrizes ao secretário-geral da Assembleia Nacional.

As directrizes, explicou o comissário da POP aos jornalistas, são que o Parlamento “vai estar aberto para os funcionários poderem entrar e trabalhar normalmente”, assim como as comissões permanentes e especializadas.

Questionado sobre se os eleitos também poderão entrar, o comissário respondeu que “os deputados é outra coisa”. Salvador Soares disse que a porta do hemiciclo foi mandada fechar “por uma questão de segurança, mas as chaves dos gabinetes estavam com os próprios donos”.

“Neste momento, a porta vai ser aberta e cada um vai poder entrar no seu gabinete para fazer os trabalhos administrativos normais”, reiterou. Sobre a presença das forças de segurança no Parlamento, disse que ali “sempre tem forças para garantir a segurança da Assembleia”. Explicou, ainda, que a ordem de reabertura do Parlamento veio do “chefe do Governo” e colocou, apenas, elementos na porta “para garantir a segurança até uma nova ordem”.

“Já saiu uma nova ordem que os funcionários devem entrar nos seus respectivos gabinetes, é para isso que nós estamos aqui”, disse. No entanto, o secretário-geral do Parlamento, José Carlos Rodrigues da Fonseca, não prestou declarações à comunicação social, indicando que não tem “autorização para dizer qualquer coisa, simplesmente” foi “convidado para assistir a este acto de reabertura da porta” da Assembleia Nacional Popular.

O Parlamento está fechado desde o dia 4 de Dezembro de 2023, data em que o Presidente da República, Umaro Sissoco Embaló, dissolveu a Assembleia da maioria Plataforma Aliança Inclusiva (PAI) – Terra Ranka. Com a dissolução do Parlamento, o Chefe de Estado substituiu, também, o Executivo por um Governo de iniciativa presidencial.

Uma fonte do Governo disse à Lusa que o Primeiro-Ministro, Rui Duarte de Barros, recebeu orientações do Presidente da República no sentido de entregar as chaves aos responsáveis da Assembleia. A fonte indicou que o único órgão da Assembleia Nacional Popular que não vai retomar é a plenária.

Sissoco Embaló evocou, como justificativa para a dissolução da Assembleia, uma tentativa de golpe de Estado que estaria a ser preparada no país, “em conivência com o Parlamento”. Vários sectores guineenses, entre os quais partidos políticos, têm contestado a medida, apontando que a Constituição da República da Guiné-Bissau não permite que a Assembleia seja dissolvida nos 12 meses após as eleições legislativas.

As eleições legislativas que deram a maioria à coligação PAI- Terra Ranka realizaram-se em Junho de 2023 e o Parlamento foi dissolvido seis meses depois. O presidente da Assembleia, Domingos Simões Pereira, actualmente no estrangeiro, desencadeou acções diplomáticas no sentido de pedir apoios à comunidade internacional para a retoma em pleno do funcionamento do órgão e a reposição da ordem constitucional.

Técnicos divididos na operacionalização da greve

A greve geral de três dias decretada pela Frente Social na Guiné-Bissau está a afectar mais o sector da Saúde do que o da Educação, observando-se divisões na sua operacionalização, disse, ontem, à Lusa o presidente do Sindicato dos Professores.

 De acordo com Alfredo Biaguê, vários professores ligados ao Sindeprof (Sindicato Democrático dos Professores) não aderiram à greve “por medo de represálias” do Governo. “Nas outras greves decretadas, os nossos associados foram cortados no salário, por isso muitos estão com medo dessa medida”, observou o dirigente.

O Sindeprof e a Frenaprof (Frente Nacional dos Professores e Educadores) são os sindicatos de docentes filiados na Frente Social, em representação do sector da Educação, enquanto o Sinetsa (Sindicato Nacional dos Enfermeiros, Técnicos de Saúde e Afins) e a Sinquasa (Sindicato de Quadros da Saúde) representam o sector da Saúde.

A Lusa constatou, em Bissau, que praticamente todas as escolas públicas se encontram em funcionamento, uma situação confirmada pelo presidente do Sindeprof. Alfredo Biaguê observou que “alguns professores aderiram à greve”, mas admitiu que “muitos estão a dar aulas”.

A paralisação laboral é mais notória no sector da Saúde, nomeadamente no ‘Simão Mendes’, principal hospital da Guiné-Bissau, onde os técnicos prestam apenas os serviços mínimos. No caderno reivindicativo da Frente Social constam, entre outros pontos, o pagamento de dez meses de salário em atraso aos professores e técnicos de saúde, a efectivação de novos quadros contratados pelo Governo para os dois sectores, a adopção de um novo currículo escolar, bem como a melhoria de condições laborais. Alfredo Biaguê notou que além destes pontos, o sector da Educação reivindica a reposição de subsídio aprovado pelo Parlamento, mas eliminado pelo Governo, referente à carga horária dos professores.

O sindicalista afirmou que o Governo decidiu, “de forma unilateral”, substituir a carga horária por “subsídio de giz”.