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Estudo expõe declínio profundo da Sonangol e defende privatização massiva para travar colapso

A Sonangol enfrenta um declínio tão grave que já não pode ser explicado por crises externas e, segundo um novo estudo, só uma reforma quase cirúrgica incluindo privatização de 45 por cento e afastamento total de influências partidárias, poderá impedir um colapso estrutural da petrolífera estatal.

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O alerta surge num extenso relatório do Centro de Estudos de Desenvolvimento Económico e Social de Angola (CEDESA), assinado por Rui Verde, que descreve uma empresa debilitada por fragilidade institucional, incapacidade crónica de aumentar a produção e investimentos ruinosos fora do sector petrolífero. O académico sublinha que a Sonangol acumulou centenas de milhões de dólares em prejuízos em áreas como saúde, transportes e imobiliário, transformando-se num fardo permanente para as contas públicas.

A análise denuncia um quadro de má governação marcado por corrupção, nepotismo e esquemas de desvio de combustível, problemas que, segundo o relatório, corroeram a credibilidade da Sonangol e expuseram a sua vulnerabilidade interna. A produção petrolífera continua estagnada e em queda: Angola passou de mais de 1,8 milhões de barris por dia em 2008 para menos de 1,1 milhões em 2024, sem que a empresa tenha apresentado capacidade de inverter esta trajectória.

O estudo aponta igualmente a redução do investimento em exploração e desenvolvimento como um dos factores que aceleram o declínio. Em vez de apostar em tecnologias e projectos que aumentem a produção, a petrolífera tem direccionado recursos para operações financeiras opacas, compensação da dívida e manutenção de activos que já não oferecem retorno estratégico. As dúvidas sobre a transparência contabilística continuam a afastar investidores, mesmo perante anúncios de privatização parcial.

Como resposta, o CEDESA defende uma transformação profunda: privatização de 45 por cento do capital com um terço reservado a trabalhadores, proibição de militantes partidários na gestão e alienação de áreas estruturalmente deficitárias, como a Sonangol Distribuição. A entrada de operadores privados no ‘downstream’ permitiria concentrar os esforços nos segmentos mais lucrativos, enquanto a concorrência interna poderia melhorar preços e qualidade dos serviços.

O documento recomenda ainda que parte das futuras receitas seja canalizada directamente para províncias produtoras, reduzindo desigualdades regionais, e que a empresa aposte fortemente em investigação e desenvolvimento nas áreas de eficiência energética e energias renováveis. Para os investigadores, apenas uma Sonangol despartidarizada, enxuta e tecnologicamente renovada poderá recuperar a confiança pública e voltar a competir no mercado internacional.