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Governo não reage: Crescimento da Carmon encobre falta de padrões de qualidade e segurança exigidos na construção

Empresa angolana de construção alvo de denúncias sobre obras inacabadas, ligações políticas suspeitas e abuso de funcionários.

Registro autoral da fotografia

Há 1 mês
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A Carmon Reestrutura, uma das maiores empresas angolanas de construção civil, com operações nas províncias como Bengo, Malanje e Namibe e com expansão para mercados internacionais, está no centro de denúncias graves. De acordo com as denúncias e fontes consultadas pela pela redacção da Pontual, a empresa, conhecida também pelos seus projectos de grande escala, como os viadutos do Zango, Kilamba e Cazenga, tem sido alvo de denúncias devido ao alegado abandono de acabamentos nas suas obras, abuso de poder e possíveis ligações com figuras políticas influentes, já que está atrelada ao filo do ex-presidente da República de Angola.

Denúncias de obras inacabadas e falhas estruturais

A expansão e a visibilidade da Carmon contrastam com as acusações de irregularidades nas suas construções, especialmente em Luanda. Obras de alta visibiidade como os viadutos do Zango, Kilamba e Cazenga, que facilitam o trânsito nas áreas periféricas da capital, foram apontadas como incompletas. Segundo moradores e especialistas da área da construção, é notória a falta de acabamentos essenciais que, além de obras esquecidas nas laterais das estruras, a iluminação adequada, sinalização e protecções de segurança, são também outros constragimentos, o que levanta dúvidas sobre o cumprimento dos padrões de qualidade e segurança exigidos.

“É impressionante como a obra foi entregue com falhas tão evidentes. Não há justificativa para viadutos tão modernos deixarem lacunas no que deveria ser um projeto modelo para o país”, disse um engenheiro civil que preferiu não se identificar, ao falar da obra do viaduto do Zango.

Conexões políticas e acusações de corrupção

Além dos problemas visíveis nas suas obras, a Carmon Reestrutura enfrenta denúncias de favorecimento político e envolvimento em escândalos de corrupção. A empresa estaria ligada ao filho do ex-presidente angolano, José Eduardo dos Santos. Fontes consultadas afirmam que Zenu dos Santos, filho do ex-presidente é que a teria beneficiado em licitações governamentais e possibilitado operar com pouca ou nenhuma fiscalização em Angola.

Apesar das críticas recorrentes, a Carmon raramente foi responsabilizada por eventuais atrasos ou falhas nas suas obras. A empresa teria usado sua influência para desviar a atenção de autoridades e evitar sanções, mantendo-se intocável enquanto avança com contratos públicos e novos projectos.

Viaduto do zango, entregue sem os devidos acabamentos.

Desrespeito aos direitos trabalhistas e assédio no ambiente de trabalho

Funcionários angolanos da Carmon também apontam para um ambiente de trabalho desrespeitoso. Segundo relatos, trabalhadores são frequentemente submetidos a condições desumanas, com jornadas longas e salários incompatíveis com o custo de vida. Fontes internas relatam que o ambiente é marcado pela arrogância de chefias estrangeiras, que, além de ´maltratar´ os empregados locais, desconsideram normas trabalhistas angolanas.

“Eu trabalho aqui há mais de três anos, e o salário mal dá para cobrir as despesas básicas”, lamenta um funcionário que, temendo represálias, pediu anonimato. “Sem falar que, se algo acontece, não temos ninguém para recorrer.”

Expansão internacional oculta problemas domésticos

Apesar das polêmicas, a Carmon está em plena expansão internacional, com escritórios de representação na Europa, Ásia e outros países africanos. A CEO da empresa, Mayra Costa, destacou recentemente a confiança dos parceiros estrangeiros e o sucesso da empresa em Angola, afirmando que o mercado nacional ainda é o “navio almirante” do grupo.

Entretanto, a expansão para novos mercados pode levantar ainda mais dúvidas sobre a origem dos recursos da Carmon, que se vê diante de múltiplas acusações de desvio de verbas públicas e descumprimento de obrigações trabalhistas. Comentários sugerem que a projecção internacional pode ser uma tentativa de melhorar a imagem da empresa e diluir as críticas, evitando que as denúncias locais comprometam o crescimento da empresa nos mercados mais regulados.

Uma ameaça à imagem do scetor de construção angolano?

O sucesso da Carmon é inegável, mas as inúmeras acusações de negligência, favoritismo político e abuso laboral levantam uma questão urgente sobre o impacto dessa conduta na imagem do sector de construção em Angola. Empresas que operam com métodos suspeitos e que privilegiam o lucro em detrimento da qualidade e do bem-estar dos trabalhadores podem comprometer a confiança do público em iniciativas de infraestrutura.

A Pontual procurou a administração da Carmon para comentar as acusações, mas, até o momento, não obteve resposta.

Cidadãos aponta o caso da Carmon Reestrutura como uma alerta sobre a necessidade de fiscalização rigorosa e a aplicação de sanções firmes. A expansão da empresa para o exterior talvez indique um movimento estratégico, mas enquanto os problemas internos persistirem, será difícil para a Carmon limpar sua imagem e ganhar a confiança da população angolana, que anseia por empresas comprometidas com a responsabilidade e o progresso do país.

Contraditório sem reacção

A redacção da Pontual enviou, há mais de 24h, um e-mail à referida empresa, a fim de apurar os factos, mas até ao momento da publicação desta matéria não houve qualquer reacção.

PONTUAL, fonte credível de informação.