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Igreja Católica expõe feridas sociais e alerta para riscos de instabilidade em Angola

A Igreja Católica lançou um duro alerta sobre o agravamento da pobreza em Angola, afirmando que os tumultos de Julho expuseram “buracos sociais, familiares e institucionais muito profundos” que exigem uma transformação imediata e corajosa no país.

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O aviso partiu do presidente da Conferência Episcopal de Angola e São Tomé (CEAST), Dom José Manuel Imbamba, que, na abertura da II Assembleia Plenária dos bispos, esta quarta-feira, no Santuário da Muxima, descreveu um cenário de crescente instabilidade social, marcado pela ansiedade e frustração da juventude.

“Não podemos fechar os olhos à realidade do nosso país. Apesar de avanços que merecem aplausos, assistimos ao agravamento da pobreza das famílias angolanas, um flagelo que atinge a dignidade de muitos concidadãos”, declarou o arcebispo de Saurimo. Sublinhou ainda que a pobreza em Angola “não é apenas material”, mas também social, política, cultural e espiritual, corroendo a confiança nas instituições e no futuro.

Para o líder da CEAST, as desigualdades gritantes, a falta de emprego e a ausência de oportunidades alimentam a desesperança e a irreverência entre os jovens. Defendeu, por isso, um diálogo mais frequente e justo entre governantes e governados, alertando para o perigo do uso “exagerado e desproporcional da força” como resposta à contestação popular.

A poucos meses das celebrações dos 50 anos de independência, Dom Imbamba considerou que o país precisa de um verdadeiro “exame de consciência nacional”, que vá além da renovação das estruturas e atinja o coração e a mente de governantes, legisladores, magistrados, políticos, jornalistas, funcionários, religiosos e cidadãos.

O prelado apelou à construção de uma nova cultura social e política, fundada na ética, na solidariedade e na responsabilidade partilhada, mas também em reformas profundas do Estado, que deve estar exclusivamente ao serviço da cidadania e do bem comum.

“É nosso dever educar para a paz, a justiça, a reconciliação e a tolerância. As soluções não virão de fora, mas de dentro, do compromisso sério de todos os angolanos”, concluiu.

A Assembleia da CEAST, que decorre até 22 de Setembro, inclui na sua agenda o Congresso Nacional da Reconciliação pelo Jubileu dos 50 anos de Independência, previsto para Outubro, e a criação de novas dioceses no país.