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Portugal acusado de ser a ‘lavandaria’ da corrupção angolana

Académicos e activistas acusaram este domingo a elite política e económica portuguesa de ser cúmplice do regime angolano, que classificaram como um Estado “cleptocrático”. Em debate promovido pelo Observatório da Imprensa Angolana, os intervenientes sustentaram que a relação entre os dois países tem sido movida por interesses financeiros, em prejuízo da democratização de Angola.

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Há 4 dias
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A socióloga e jornalista Luzia Moniz foi peremptória ao afirmar que Portugal funciona como “lavandaria” do dinheiro desviado dos cofres angolanos, capital que deveria ser canalizado para sectores como a educação. Para a investigadora, existe uma “vassalagem” do poder angolano face a Lisboa, onde Marcelo Rebelo de Sousa teria uma ascendência política sobre João Lourenço.

Karina Carvalho, directora da EthosGov, reforçou as críticas ao defender o fim da “promiscuidade entre política e negócios” e recordou o “descalabro do BESA” como exemplo do preço que também os portugueses pagam. A socióloga afirmou que, apesar da aparência democrática, Angola vive sob um “espectro autoritário” alimentado pela corrupção endémica e pela cumplicidade internacional, onde Portugal e a CPLP desempenham um papel central.

“Angola não é uma ditadura clássica, mas o MPLA manipula as instituições democráticas para se perpetuar no poder”, declarou, acrescentando que a política externa portuguesa tem sido pautada por interesses económicos, colocando os direitos humanos e a boa governação em segundo plano.

O professor Raul Tati, deputado independente pela UNITA, corroborou a ideia de uma “vassalagem recíproca” e recordou episódios em que Lisboa se teria vergado a Luanda, como no caso Manuel Vicente, que provocou tensão diplomática entre os dois países.

O moderador do debate, o escritor Domingos da Cruz, foi ainda mais longe ao afirmar não ver “qualquer possibilidade” de Portugal apoiar seriamente a democratização de Angola, lembrando que Marcelo Rebelo de Sousa terá legitimado o “simulacro eleitoral” angolano de 2022 ao felicitar prontamente os resultados.

Apesar das acusações contundentes, alguns participantes reconheceram que existe também em Portugal uma corrente que deseja ver Angola livre e democrática, sublinhando que sem a construção de pontes entre as duas sociedades será difícil romper o actual statu quo.