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Angola regista mais de três mil casos de fuga à paternidade

Três mil e 690 casos de fuga à paternidade foram registados em todo o país durante o ano transacto, deu a conhecer, essa Terça-feira, a directora Nacional para a Política Familiar do MASFAMU, Santa Ernesto

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Há 9 meses
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Em entrevista à ANGOP, no âmbito das comemorações do Dia do Pai, a directora referiu que, embora haja uma redução significativa comparativamente ao ano de 2022, durante o qual o INAC registou 4 mil e 935 casos, a situação ainda tem preocupado o Executivo angolano.

Perante o cenário, sublinhou, o Executivo tem desenvolvido algumas acções alinhadas ao Programa de Desenvolvimento Nacional 2023-2027 e ao Programa Nacional da Acção Social e Valorização da Família, através dos Projectos Jango de Valores e “Minha Família, Minha Inspiração”.

Disse que os referidos programas visam o envolvimento de todas as forças vivas da sociedade na busca de estratégias para a chamada de atenção ao papel do pai na família, apelando a uma paternidade responsável.

Referiu que o Programa “Minha Família, Minha Inspiração”, através da componente de Preparação de Jovens Casais, consiste em realizar palestras para preparação dos jovens para o casamento, para uma vida familiar harmoniosa.

Com base nestes projectos, afirmou Santa Ernesto, as acções estão voltadas para a sensibilização das famílias através de palestras mensais sobre várias temáticas, incluindo a responsabilidade parental.

Neste domínio, foram sensibilizados, de 2021 a Janeiro de 2024, 41 mil e 811 pessoas das quais 17 mil e 404 homens, em temáticas como fuga à paternidade, a violência doméstica, abuso sexual contra menores, a importância do pai na família e outros assuntos na perspectiva da mudança de comportamentos e a adopção de práticas positivas conducentes à paternidade responsável.

Igreja

Para a secretária do Conselho das Igrejas Cristãs (CICA) em Angola, Deolinda Dorca Teca, o 19 de Março não é uma data que deve ser apenas para comemoração, mas sim um momento de reflexão em torno da responsabilidade familiar por parte do pai, levando a cada um pensar sobre o seu papel no seio da sociedade.

“É preciso rever o significado do pai no lar, na família e na sociedade”, sublinhou. Este exercício, segundo a reverenda, ajudaria no combate à fuga à paternidade, pois, cada um, tem em si deveres e direitos perante aos seus filhos, que passam pelo provimento de víveres, amor e aproximação familiar.

Quanto ao papel das organizações sociais (Igrejas), afirmou ser importante o contínuo trabalho em programas ligados à masculinidade, o ser homem, o ser chefe de família, vantagens que trazem ao mundo afectivo, material ou financeiro.

Por este facto, chamou atenção aos órgãos do Estado a trabalhar em conjunto, para o reforço da capacitação do homem, do pai que se quer ter em Angola.

No que toca aos casos de abandono de pais nos centros para idosos, a reverenda sublinhou que esta acção não se trata de um hábito africano, facto que leva a repensar sobre o que se está a passar, uma vez que a miscelânea de cultura tem causado ruptura profunda nos costumes essenciais das famílias.

Por sua vez, o sociólogo Mateus Francisco considerou a data carregada de muito simbolismo, facto que deve ser aproveitado para reflexão sobre o papel do pai na sociedade e suas responsabilidades.

“Precisamos repensar o papel do pai, uma figura tão importante para a sociedade, que em muitos casos é associada a práticas menos boas, como fuga à paternidade e violações sexuais”, referiu.

Mateus Francisco disse que é necessário um trabalho de sensibilização, no sentido de se formar uma nova geração que valorize mais a figura do pai.

Sobre a data

Na figura do Pai recai sobre si o papel descrito por meio de acções como cuidado, educação e alimentação dos filhos, sendo que o cuidado é o acto voltado à manutenção da vida, desde a concepção, infância e a adolescência.

Este ciclo, reserva ainda a condição de educador, sobretudo, a partir de exemplos que conduzem os filhos para a vida futura, sendo interligada com a garantia da subsistência familiar.

Embora sejam “estas” as responsabilidades paternas, essas actividades ainda constituem um grande desafio a nível nacional, face ao aumento dos números de fuga à paternidade com a rejeição dos pais em assumir os seus encargos em relação aos filhos.

Nessa questão vários factores sócio-familiares são aflorados, desde a falta de condições sociais (emprego), desestruturação familiar e outras situações similares.

Tal cenário desfavorece a manutenção da posição paterna como coadjuvante, tomando-os distantes na interacção das tarefas educacionais das crianças, bem como no tempo para participação nas etapas de crescimento e desenvolvimento dos filhos.

Por isso, várias organizações sociais apelam à importância da participação da sociedade no processo de sensibilização e moralização dos pais a assumirem as suas responsabilidades junto das famílias, no sentido de se construir uma nação melhor.

A celebração do Dia do Pai varia de país para país, Angola celebra a data a 19 de Março, tal como a Espanha, Itália, Andorra, Bolívia, Honduras e Liechtenstein.

Quanto à sua origem existem duas histórias, uma delas aponta que a data é atribuída à americana Sonora Louise, filha de um militar que resolveu criar o Dia do Pai motivada pela admiração que sentia pelo seu pai, William Jackson Smart.

A celebração ficou conhecida nos Estados Unidos e, em 1972, o presidente americano Richard Nixon oficializou o Dia do Pai.

No entanto, a homenagem de um filho ao seu pai na Babilónia também pode ter dado origem ao Dia do Pai.

Isso aconteceu em 2000 a.C., quando um jovem rapaz de nome Elmesu escreveu uma mensagem numa placa de argila, em que desejava saúde, felicidade e muitos anos de vida ao seu pai.