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Angola em risco de ruptura no combate ao HIV/SIDA devido a cortes dos EUA, alerta ONU

Angola está entre os países mais atingidos pelos cortes de financiamento dos Estados Unidos na luta global contra o HIV/SIDA, revelou a ONUSIDA, braço das Nações Unidas para o combate à epidemia. A suspensão abrupta da assistência norte-americana provocou uma onda de incertezas em pelo menos 56 países, sobretudo africanos, com Angola no epicentro das preocupações.

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De acordo com o relatório “Impacto dos cortes de financiamento dos EUA: uma visão geral sobre a disponibilidade de produtos para o HIV e os riscos de gestão”, divulgado esta semana, Angola conta actualmente com apenas um mês de reserva de testes confirmatórios Bioline um dos principais meios de diagnóstico da doença.

Além de Angola, constam na lista negra países como a Etiópia, República Democrática do Congo, Costa do Marfim, Guatemala e Ucrânia, todos com níveis críticos de ‘stock’ de produtos essenciais para a prevenção e tratamento do HIV.

A ONUSIDA alerta que 23% dos países analisados dispõem de menos de seis meses de preservativos ou comprimidos de PrEP, utilizados para prevenir novas infecções. Esta escassez surge num contexto de declínio acentuado mais de 30% desde 2011 na aquisição pública e subsidiada de preservativos.

A situação agrava-se ainda mais com as dificuldades logísticas e a paralisação de clínicas móveis e campanhas de sensibilização, que deixaram de chegar a populações vulneráveis em países como Lesoto, Malaui ou Sudão do Sul.

No que diz respeito ao tratamento, cerca de 14% das nações avaliadas têm apenas seis meses ou menos de antirretrovirais em ‘stock’. Angola volta a destacar-se negativamente. Apesar de haver produtos armazenados em depósitos regionais, a distribuição encontra-se interrompida, o que já causou rupturas em pelo menos uma província apoiada pelo programa PEPFAR o plano de emergência norte-americano para o HIV/SIDA.

A ONUSIDA reconhece esforços de mitigação por parte do Governo angolano, incluindo mobilizações orçamentais adicionais. No entanto, alerta que os riscos persistem e que falhas na cadeia logística afectam a confiança dos pacientes e a eficácia do tratamento.

“Se o financiamento não for restaurado ou substituído, o progresso conquistado ao longo dos últimos anos estará em perigo”, avisou uma responsável do organismo no Tajiquistão outro país que poderá perder 60% do seu orçamento para programas de HIV.

O secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, deverá apresentar o seu relatório sobre o HIV/SIDA na Assembleia-Geral da ONU, em Nova Iorque, na próxima Quinta-feira, num momento em que o mundo se vê confrontado com o risco real de retrocessos na luta contra uma das mais persistentes epidemias globais.