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Dois anos depois, Angosat-2 ainda luta para “pagar conta” de 320 milhões de dólares

Dois anos após o seu lançamento com pompa e circunstância, o satélite angolano Angosat-2 ainda não conseguiu justificar o investimento de 320 milhões de dólares. Até ao momento, as receitas geradas rondam apenas 30 milhões, valor considerado “muito aquém do desejado” pelas autoridades do sector.

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O dado foi revelado por Lumonansoni André, coordenador do Programa Nacional de Educação Espacial do Ministério das Telecomunicações, Tecnologias de Informação e Comunicação Social, que reconheceu que o retorno económico do projecto “ainda não cobre o investimento feito”.

Segundo o responsável, 90% dos serviços da banda C do satélite já foram vendidos, enquanto a banda KU, que cobre a região austral, está comercializada em cerca de 36%. A banda KA, por sua vez, ainda não foi explorada, o que representa, segundo o técnico, “uma margem de crescimento significativa para os próximos anos”.

Apesar do fraco retorno financeiro, o coordenador mantém o optimismo: “Ainda temos muitas capacidades para vender. Acreditamos que, nos próximos anos, será possível recuperar o investimento realizado.”

Entre os principais clientes do Angosat-2 estão grandes operadores nacionais, como a Angola Telecom, MSTelecom, Infrasat, ITA e o Grupo Paratus, que compram capacidade de banda e revendem a operadoras como a Unitel e a Movicel, responsáveis pela distribuição dos serviços ao consumidor final.

Mas os impactos do satélite vão além das telecomunicações. De acordo com Lumonansoni André, o Gabinete de Gestão do Programa Espacial Nacional (GGPEN) tem utilizado o Angosat-2 para apoiar projectos tecnológicos em várias áreas:

  • Cobrança de impostos: a plataforma digital da Administração Geral Tributária (AGT) permite hoje monitorizar mais de 11 milhões de habitações, contra apenas 400 mil no passado;
  • Controlo ambiental: a tecnologia TecEcologia auxilia o Governo na detecção de derrames de petróleo e no combate à poluição marítima;
  • Mineração e agricultura: ferramentas como TecMinas e TecAgro usam imagens de satélite e inteligência artificial para prevenir acidentes mineiros e melhorar a produtividade agrícola.

Confrontado com as críticas de cidadãos que dizem não sentir benefícios directos do satélite, o responsável esclareceu que o GGPEN apenas comercializa a capacidade espacial, cabendo às empresas parceiras a responsabilidade de levar os serviços ao utilizador final.

“Vendemos as capacidades, mas não interferimos na gestão interna das empresas. O nosso papel é garantir infra-estruturas espaciais sólidas e formar quadros para criar uma verdadeira cadeia de valor no sector”, explicou.

As declarações foram feitas à Angop, no âmbito da Semana Mundial do Espaço, celebrada de 4 a 10 de Outubro, onde Angola apresentou ao mundo os progressos do seu Programa Espacial Nacional.