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Vacinação e estação seca travam avanço da cólera em Angola, diz especialista

A incidência da cólera em Angola tem vindo a diminuir significativamente nas últimas semanas, uma tendência que, segundo o médico angolano e especialista em saúde pública Jeremias Agostinho, se deve sobretudo ao impacto da campanha nacional de vacinação e à chegada da estação seca.

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Há 1 mês
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Dados do Ministério da Saúde revelam que o país registou, nos últimos sete dias, 186 novos casos uma média diária de 26 e apenas um óbito, um contraste acentuado face aos períodos mais críticos do surto, em que se ultrapassavam os 100 casos por dia. Nas últimas 24 horas, foram notificados 19 casos e nenhuma morte.

Para Jeremias Agostinho, a actual redução está associada a dois factores principais. Por um lado, o reforço da imunização: “À medida que se vacinam as pessoas, estas ganham imunidade, o que reduz a propagação da bactéria. Em cada 100 pessoas expostas, cerca de 80 não chegam a manifestar sintomas”, explicou, em declarações à agência Lusa.

Por outro lado, a transição para o cacimbo período seco e frio — também contribui para a desaceleração da doença. “Com menos chuvas, há uma diminuição do risco de contaminação por águas contaminadas, que é um dos principais veículos de transmissão da cólera”, sublinhou.

Desde o início do surto, a 7 de Janeiro, Angola contabiliza um total de 27.483 casos e 764 óbitos. As províncias mais afectadas continuam a ser Luanda (6989 casos e 222 mortes), Benguela (4718 casos e 108 mortes) e Bengo (3064 casos e 119 óbitos).

Para conter a propagação da doença, o Ministério da Saúde deu início, no passado sábado, à terceira fase da campanha nacional de vacinação, com arranque na Lunda Norte. Até ao momento, foram administradas 1,9 milhões de doses em 24 municípios prioritários, abrangendo cerca de dois milhões de pessoas nas províncias de Cabinda, Cuanza Sul, Lunda Norte, Huíla, Namibe e Zaire.

Apesar da tendência positiva, o especialista apelou à continuidade dos esforços estruturais. “É fundamental que se mantenham investimentos em abastecimento de água, saneamento básico, recolha de lixo e drenagem de águas residuais, especialmente em zonas com difícil acesso”, alertou.

Angola atravessa uma fase de estabilização epidemiológica, mas os especialistas avisam: sem medidas preventivas sustentadas, o risco de novos surtos permanece.