0º C

20 : 38

Mulheres podem passar a ser multadas em casos de infidelidade nos Gambos

As autoridades tradicionais do município dos Gambos, na província da Huíla, estudam a possibilidade de aplicar multas também às mulheres envolvidas em casos de adultério, no quadro da prática cultural conhecida como COE. A medida surge após denúncias de que esta tradição, de origem entre os Nyaneka Umbi, estaria a ser utilizada com fins comerciais, afastando-se da sua função inicial de preservação da harmonia comunitária.

Registro autoral da fotografia

Há 7 dias
2 minutos de leitura

O COE, com raízes centenárias, previa que apenas o homem apanhado em relações extraconjugais fosse penalizado, através do pagamento de uma ou duas cabeças de gado ao marido da mulher com quem se envolveu. No entanto, de acordo com os sobas locais, a prática tem vindo a ser desvirtuada, transformando-se, em alguns casos, num “negócio” para algumas famílias.

Face a esta realidade, líderes tradicionais da Ombala dos Gambos defendem que também a mulher adúltera deve ser responsabilizada, pagando uma multa à esposa legítima do homem com quem manteve relações. A proposta, contudo, divide opiniões dentro da comunidade.

O rei da Ombala sublinhou que a essência do COE nunca foi patrimonial, mas sim de pacificação, sobretudo em situações em que os envolvidos mantinham laços de amizade. “Se for alguém de consideração, trata-se como um lapso e não se chega a exigir gado. Mas hoje muitos usam o COE como forma de benefício económico, inclusive para facilitar divórcios ou reduzir custos do dote matrimonial”, afirmou.

Alguns sobas consideram que a mudança do enquadramento cultural é necessária para travar abusos, enquanto outros defendem a preservação da tradição na sua forma original. Em comunidades da região, a proposta de alargar as penalizações às mulheres adúlteras já encontra aceitação.

A seculo da Shibemba, Treza Jamba, confirmou que pretende reunir chefes de família e outras autoridades locais, em articulação com o Ministério da Acção Social, Família e Promoção da Mulher, para procurar consensos sobre a eventual introdução da nova regra.