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«Nunca roubou, era mãe batalhadora»: bairro chora mulher executada pela polícia

A morte de Silvi Mubiala, de 33 anos, alvejada mortalmente durante os tumultos que abalaram Luanda esta semana, gerou comoção e revolta no bairro da Caop B, em Viana. Mãe de seis filhos, Silvi foi baleada quando tentava resgatar um dos filhos no meio do caos que se instalou durante a paralisação dos taxistas, na passada Terça-feira.

Registro autoral da fotografia

Há 2 semanas
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A família acusa agentes da Polícia de Intervenção Rápida (PIR) de serem os autores dos disparos. O episódio foi amplamente partilhado nas redes sociais, num vídeo onde se vê o filho em lágrimas, sentado junto ao corpo da mãe. A imagem tocou profundamente o país e intensificou os apelos por justiça.

O viúvo, João Panzo, de 42 anos, encontra-se desamparado com os seis filhos, incluindo uma bebé de sete meses. “A Silvi era o sustento da casa. Agora estamos sem apoio”, declarou, visivelmente abalado, à agência Lusa. O homem diz desconhecer os detalhes do ocorrido, pois estava fora da cidade no momento dos confrontos.

Relatos de moradores apontam para tiros disparados à queima-roupa por agentes da PIR. Segundo testemunhos, outros dois civis terão sido igualmente atingidos na mesma rua, conhecida como Guarda Passagem. “Ela não estava a protestar, saiu apenas à procura do filho. A polícia disparou na direcção das pessoas e ela levou um tiro na cabeça”, descreveu Catarina Francisco, vizinha da vítima.

Com lágrimas nos olhos, Esperança Fernando Romão, que afirma ter assistido à tragédia, lamentou a perda da vizinha e reforçou o apelo à responsabilização dos autores: “Queremos justiça. Ela era uma mulher batalhadora, nunca roubou ninguém”.

No local da ocorrência ainda são visíveis vestígios de sangue. O ambiente na comunidade é de luto, com vários residentes reunidos junto à residência da família para prestar solidariedade.

A família, que vive numa casa modesta arrendada e com dívidas acumuladas, apela à sociedade civil e às autoridades por apoio para o funeral e assistência às crianças. O irmão do viúvo, Alegria Alberto, sublinhou a urgência do auxílio, relembrando que João Panzo não tem emprego fixo e dependia do comércio informal feito pela esposa.

De acordo com dados oficiais, pelo menos 22 pessoas morreram nos três dias de distúrbios provocados pela greve dos taxistas, que protestavam contra o aumento do preço dos combustíveis e das tarifas de transporte. A morte de Silvi Mubiala torna-se agora símbolo de um luto colectivo e de um apelo nacional por justiça e responsabilidade.