0º C

16 : 40

PAM: quatro em dez crianças angolanas com menos de cinco anos sofrem desnutrição crónica

A desnutrição crónica afecta quatro em cada dez crianças angolanas com menos de cinco anos, uma das mais elevadas taxas a nível mundial, segundo o relatório de 2024 do Programa Alimentar Mundial (PAM).

Registro autoral da fotografia

Há 5 horas
2 minutos de leitura

“Os indicadores de nutrição de Angola continuam a ser preocupantes, com a desnutrição crónica (atraso de crescimento) a afectar 40 por cento das crianças com menos de cinco anos de idade – uma das taxas mais elevadas a nível mundial”, aponta a agência da ONU que actua no combate à fome e insegurança alimentar.

A desnutrição resulta de múltiplos factores, incluindo o acesso limitado a alimentos nutritivos, a falta de saúde materna e infantil, serviços de saúde inadequados, a instabilidade económica e as normas patriarcais enraizadas, descreve o documento consultado pela Lusa.

Segundo o relatório, Angola está entre os países com mais desigualdade em todo o mundo, com 31 por cento da população (11,6 milhões de pessoas) a viver abaixo da linha de pobreza, com menos de cerca de 1970 kwanzas (2 euros) por dia.

“O baixo nível de escolaridade e os maus resultados em matéria de saúde colocam o país em 150.º lugar entre 193 no Índice de Capital Humano”, diz o PAM, acrescentando que a pobreza infantil extrema é generalizada, com uma em cada três crianças com menos de 15 anos a viver com menos de cerca de 1970 kwanzas (dois euros) por dia.

Além disso, mais de um quarto das crianças em idade escolar nunca frequentaram a escola, aumentando o risco de pobreza intergeracional, segundo o documento analisado pela Lusa.

O PAM refere que Angola enfrenta choques económicos e climáticos significativos, que ameaçam o crescimento económico e a segurança alimentar, sendo as pessoas em risco as mais afectadas.

O país enfrentou também as secas mais severas de sempre das últimas quatro décadas, agravadas pelo El Niño em 2024, reflectindo-se na redução de rendimento agrícola, perda de rendimentos e de bens, falta de água e deslocações de pessoas, em particular nas regiões sul e leste.

Apesar da vastidão de terras com potencial agrícola e clima favorável, 80 por cento dos agricultores dedicam-se à agricultura de subsistência, embora o Governo tenha identificado este sector no seu Plano de Desenvolvimento Nacional para 2023-2027 como motor do crescimento inclusivo e da diversificação económica.

Angola, que conta com cerca de 35 milhões de habitantes, teve um crescimento de quase 4 por cento no ano passado, o mais elevado desde 2014, mas os preços elevados dos alimentos a nível mundial, depreciação cambial e subida dos combustíveis levaram a uma inflação próxima dos 28 por cento no final do ano passado.

A organização destaca, por outro lado, os progressos dos últimos anos a nível da igualdade de género, salientando que precisam de ser “acelerados”.

“As desigualdades no acesso e controlo dos recursos, as normas sociais e barreiras estruturais continuam a ser generalizadas, limitando a capacidade das mulheres beneficiarem, e contribuírem, em termos igualitários para a produtividade agrícola, a transformação dos sistemas alimentares e o desenvolvimento rural”, sublinha o PAM.

Por outro lado, apesar de Angola ter posto em prática o primeiro programa de transferências monetárias directas, o Kwenda, que visa atingir 1,5 milhões de famílias de baixos rendimentos, apenas 10 por cento da população beneficia de um esquema de protecção social.

Em 2024, o PAM chegou a 75.200 pessoas, 55 por cento das quais mulheres e crianças, mas a assistência foi reduzida em 53 por cento devido a “constrangimentos nos fundos e atrasos nas contribuições”.

O PAM é inteiramente financiado por donativos voluntários de Governos, organizações internacionais, empresas e doadores individuais, sendo os EUA o principal doador.

O PAM apoiou 48.000 crianças e mulheres e raparigas grávidas e a amamentar e, nas províncias mais afectadas pela seca, forneceu vales de produtos de base a 31.000 membros de agregados familiares de crianças com desnutrição aguda, num total de cerca de 700 mil euros.

Prestou também assistência alimentar a 5600 refugiados da República Democrática do Congo que residem no assentamento do Lóvua (Lunda Norte).

C/VA